A Cidade da Matola tem sido um dos locais do país que mais se ressente com as enchentes das águas das chuvas, tornando as vias intransitáveis e casas alagadas. Para minimizar a situação, que multiplica mosquitos e causa doenças, residentes do bairro Nkobe realizam jornadas de limpeza.
A última actividade de limpeza ocorrida no bairro concentrou-se numa zona conhecida como “Bairro Novo”, no quarteirão 21, onde, no dia 7 de Dezembro, homens e mulheres juntaram-se para diminuir o capim alto e abrir valas de drenagem para o escoamento da água das chuvas.
A iniciativa integrou-se na Semana de Acções Filantrópicas promovida pela Fundação Micaia, que, no contexto da celebração do Dia Internacional do Voluntariado (5 de dezembro), visa destacar o impacto positivo do voluntariado nas comunidades e dar visibilidade a diversas acções filantrópicas realizadas por indivíduos e organizações.
Uma dessas organizações é a Associação Comunidade em Acção (CVA), que, para além de realizar jornadas de limpeza, dedica-se à segurança alimentar, construção de infra-estruturas, saúde e meio ambiente.
“Nós estamos a viver numa zona pantanosa e, quando chove, a rua fica barrada e cheia de capim, então, o objectivo é, pelo menos uma vez por mês, fazer o corte de capim e criar valas de drenagem para poder circular a água”, descreve a actividade Atanásio João, presidente da CVA.
Depois da preparação das valas de drenagem, explica João, a água tem como circular e, para além disso, o próprio capim não cresce com muita rapidez, então, facilita a visibilidade da estrada.
“Quando o capim cresce, os malfeitores aproveitam para se esconder e em algum momento há necessidade de se fazer a limpeza para evitar isso”, acrescenta o nosso entrevistado, frisando que estas actividades acompanham sessões de palestras para a preservação do meio ambiente.
Alegria Chambule é um dos residentes do quarteirão 21 que não ‘foge’ às jornadas de limpeza sempre que é convocado e já vão cinco anos. Chambule explica que, de forma geral, o trabalho que fazem é a limpeza da rua principal, porque é onde “nós temos tido maior problema”.
“Quando há enchentes de água, passado algum tempo, o capim cresce rapidamente e aí há necessidade de a gente libertar a estrada e a mobilidade das pessoas”, conta.
Para Chambule, ainda que o trabalho rotineiro alivie à via, acredita que se houvesse um apoio à nível das autoridades municipais para abertura de drenos ou canais de água eficientes teriam menos transtornos, porque, como justifica, “as águas vem de cima e quando chegam numa zona pantanosa como esta espalha-se e não tem para onde ir, por isso ficam estagnadas aqui”.
Helena Nhampulo, outra moradora em jornada de limpeza, diz que vive em Nkobe há 14 anos e, inicialmente, achou o bairro muito bonito, mas depois foi traida. “No tempo chuvoso, passamos mal!”, lamenta Nhampulo, acrescentando que “esta rua (o local da limpeza) é principal, mas já não tem como as pessoas e os carros passarem”.
Fora as ruas, a enchente das águas alcança até as casas. “Já não temos como ficar nas nossas casas, porque está tudo alagado e isso é um problema muito crítico para nós”, queixa-se e apela a quem de direito: “estamos a pedir ajuda para podermos conseguir arranjar a rua”.
Já Felizarda Carlos diz que sempre que se aproxima a época chuvosa tem que recorrer aos centros de acolhimento. “A minha casa está estragada por conta das águas”, ressente-se.
Embora as jornadas de limpeza sejam consideradas proveitosas, acredita-se que seria essencial contar com o apoio do Governo para enfrentar os desafios habitacionais da área. A região possui características ambientais específicas, sendo uma zona de escoamento natural das águas, o que destaca a importância de soluções conjuntas e sustentáveis para melhorar as condições de vida da comunidade.
No entanto, mesmo que o dilema das águas seja recorrente, os residentes não ‘baixam a guarda’, juntam-se para resolver ou, pelo menos, minimizar o problema, como forma de despertar as autoridades locais sobre a necessidade de uma intervenção mais profunda.

Lurdes Domingos
Chamo-me Lurdes Francisco Domingos, tenho 22 anos de idade, e moro na cidade da Matola. Curso o 4º. ano de Licenciatura em Jornalismo na Escola de comunicação e Artes (ECA) da Universidade Eduardo Mondlane (UEM). Tenho admiração pela área televisiva e escrita e em estágio na Entre Aspas concentro-me em Lifestyle & Bem-estar.