Tentando responder a ÉNIA WA KA LIPANGA.

PARTE II

3.2. OS TRASVESTIS DO NOVO SÉCULO: ENTRE A RENÚNCIA E A CORRUPTELA ESTOMACAL.

Depois de António ENES, o então governador da Província Ultramarina de Moçambique, propor, a partir de casa, a formação de padres para limitar sua importação, esse acto, indicou pistas para o surgimento de uma Filosofia que fosse nossa. Mas ela, foi encontrada a partir de um recorte teológico, isto é: a partir de um tecto seminarístico. Isto equivale a dizer: que, as primeiras formulações filosóficas em Moçambique tiveram como esboço de apoio, a matriz teológica. Depois, seguiu-se o Marxismo-Leninista, acompanhado por ventos da Primeira República. Porém, mais tarde, em 1997, ela é re-introduzida sob o chão de TRÊS PILARES: [1]. ÉTICO. [2]. POLÍTICO. [3]. EPISTEMOLÓGICO. A estes três denominadores do nosso moderno pensamento, chamo-o de TRÊS PECADOS CAPITIAS.

3.2.1. EXPLICANDO-ME A PARTIR DA METÁFORA DOS TRÊS PECADOS CAPITAIS DA FILOSOFIA EM MOÇAMBIQUE.

De todos, que no sacrifício abnegado conseguiram fazer a travessia dos 12 anos da Escola, depararam-se com a Filosofia. Sou também parte desta sorte que conseguiu fazer a longa travessia dos 12 anos. No decurso, a Filosofia chegou-nos sempre como estranha, mas ao mesmo tempo, um fascínio. Quem eram os nossos primeiros professores? Maioritariamente, antigos seminaristas ou, ainda no sonho de seguir o sacerdócio. O que leccionavam: [1]. Uma POLÍTICA distante da nossa. Distante das utopias que plantaram a força para libertarmo-nos do opressor. Aquele que destruiu as nossas formas de governo e implantou a sua como modelo. E hoje, cantamos HOSSANAS AOS CONTRATUALISTAS: Hobbes e companhia. Aquele que destruiu a construção sócio-político das nossas comunidades. O que nos foi ensinado e, ainda hoje - continua: é essa política que não é nossa. Uma forma de governo que não se adequa a nós. [2]. Uma ÉTICA que não é nossa. Alguns puderam questionar: afinal a ética não é universal? Afinal, o não matarás não é uma proposição universal? NÃO. Uns matam como imperativo de responder aos pecados. E outros, como fundamento. Lembro agora da BIOPOLÍTICA de ACHILLE MBEMBE, um livro que Elcidio Bila ainda não me quer devolver. O outro, é da BENAZIR BHUTTO, RECONCILIAÇÃO: O ISLÃO, A DEMOCRACIA E O OCIDENTE. Ambos, dão-nos uma releitura crítica sobre a universalidade do conceito ou de uma certa prática. Esta ética a que nos foi ensinada, não é nossa. Muito menos conversou connosco sobre as nossas práticas. Não se deu cidadania a nossa cultura, lugar por onde todas as concepções sobre o homem e sua forma de ser, nascem. Perguntas sobre: quem somos? Como vivemos? Que utopias nos movem? Que lugar metafísico nos guia?, entre outras questões, não chegaram as nossas salas de aulas. PUXAMOS TUDO ISTO PARA BAIXO DO TAPETE. Continuamos a reprimir. A ridicularizar. A diabolizar e a chamar nomes insanos ao que, por séculos nos sustentou como humanos. Combatemos tudo à semelhança dos postulados que definiram a ideia do HOMEM NOVO, na Iª. República. [3.]. Uma EPISTEMOLOGIA que defina nossas variadas formas de pensar a ciência e o conhecimento. Repetimos todas possíveis variantes. Todas elas, sempre vindas de fora do nosso húmus nativista: ÁFRICA. Negou-nos, mais uma vez, a capacidade de traduzirmos por nós mesmo a compreensão e interpretação dos nossos símbolos, signos e significados. De produzirmos por nós, a ciência. A sala de aulas continuou a ser um lugar de criminalização dos nossos saberes. De proibição de pensar a partir da nossa realidade. Para a sala de aulas, o que nós produzimos é: BRUXARIA. MITO. CURANDERISMO. FEITICEIRA. Aliás, tudo, não passa de um saber do primeiro grau. Um senso comum. Nada digno de ser ciência. Estas - são as coisas dadas por aquilo que denomino por TRÊS PECADOS CAPITIAS. Aquilo que nos deveria ajudar a compreendermo-nos, colocou-nos ainda mais DISTANTE DE NÓS. É, a partir dessa limitação terminológica que sou puxado a concordar com a ideia de GNOSE de VALENTIM MUDIME como recurso de amplificação do SABER e do CONHECIMENTO para a compreensão da ÁFRICA. É negando a ideia de episteme, construída das concepções grego-romana e iluminista que faz um contra-discurso. Na episteme , mora a BIBLIOTECA COLONIAL. Esse edifício construído pelo outro para dar sentido as realidade africanas.

4. OS PINOS DO IGNORANTE INSTRUIDO

Em 1990, saia BALADA DE AMOR AO VENTO. Um demarcador de emoções. Falo com propriedade da PAULINA CHIZIANE, por variadíssimas razões. [1]. Fui revisor e editor dela, como também, [2]. Assessor. Para além destes dois pontos, atravessamos noites e madrugadas a discutir. A escrever. A viajar. Mas, acima de tudo, eu tinha a tarefa de compreender seu pensamento. Privilégio para poucos. A PARTE TUDO ISSO. Detenhamo-nos ao cruciar.

4.1. DUPLA CONDENAÇÃO

Tomo Paulina CHIZIANE de exemplo para demonstrar nossa pobreza em doar sentido ao que somos. Primeiro, PROCLAMARAM que a INSTITUIÇÃO LITERÁRIA tinha sido assaltada. Porque? A resposta foi: uma mulher não digna publicou um livro. É preta. Sem nível igual a um reduto de pessoas que se auto-proclamava dona da LITERATURA. Não era MULATA. Sem nível superior. Esse foi o primeiro ponto. O segundo: A INSTITUIÇÃO foi assalta porque o que ela escreve é BRUXARIA. FEITIÇARIA. Está trazendo à superfície coisas retrogradas. JÁ IMAGINARAM ISSO? Condenou-se uma mulher por que escreveu sobre NÓS. A classe dos assimilados tinha bebido a doutrinação de auto-negação. Auto-flagelo. Auto-mutilação. E ela estava aí. Com os seus. Poucos. Seguiu NIKETCHE. ALEGRE CANTO DA PERDIZ e outros tantos livros. Mas o que se notou, é que poucos conseguiram compreendê-la. Sempre era hostilizada. Condenada e Diminuida. Apenas por ter escolhido fazer UM CAMINHO DE REGRESSO A CASA a que tofos pertencemos. Um processo de DEVOLUÇÃO. Um caminho de REIVINDICAÇÃO. O que as pessoas dizem quando a lêem? NADA. Praticamente, NADA. Tirando algumas honrosas excepções. A partir dos livros dela, condenam uma cultura sem antes compreendê-la. Condenam-na para impor uma outra forma de ser como se essa tal forma de ser fosse a melhor. NÃO! E os nossos estudantes, praticamente formados a partir da LITERATURA DO OUTRO continuam alheios. E muito se diz sobre o CURRÍCULO LOCAL. O que faz. NADA. Aceitamos colocar nos manuais dos nossos filhos - agendas estranhas a nossa realidade. E isso, chamamos de MODERNIDADE. Glorificar o outro. É patético demais! Talvez aquela expressão de HAROLD BOOM faça mais sentido, embora retirada do seu habitat: A ANGÚSTIA DA INFUÊNCIA. Para dizer a verdade, ela diz muito.

4.2. O DILEMA DA INCOMPREENSÃO E OS VIVAS DA IDEOLOGIA OCIDENTAL.

Parece ser aqui, onde, movida pela onda dos modismos, a ÉNIA WA KA LIPANGA afirma que NASCER MULHER EM MOÇAMBIQUE JÁ É, POR SI SÓ, UMA SENTENÇA. A primeira questão seria: QUAL SENTENÇA? Aquela que é vendida pelas ONG'S? Que diz que a mulher é um ser sofredor. Nasce para sofrer? ISSO É UMA PATÉTICA FALTA DE CONHECIMENTO. Uma atitude de VENDER EMOÇÕES, como diria Cristóvão SENETA. De cumprir AGENDAS. Aliás: é uma afirmação que denuncia a EXIGUIDADE DO CONHECIMENTO. Um enunciado que olha a MULHER como figuração meramente DECORATIVA. Isso é mesmo MIMÉTICO. Será que ela conheceu a história das DONAS DA ZAMBÉZIA? Será que ela e os membros do grupo leram alguma vez JOSÉ CAPELA? Com tudo que dizem, chego a conclusão que NÃO. Vendem IDEOLOGIAS SEM ANTES CONHECER A HISTÓRIA. Um patético discurso que ridiculariza a mulher. Será que leram sobre as nossas chefaturas? NÃO! Isto é o que chamo de PINOS DO IGNORANTE INSTRUÍDO. Aquele que se antecipa ao debate sem conhecer a história do seu povo. Que condena sua cultura sem antes compreendê-la. Aquele que se anula para receber os aplausos do PATRÃO. Falaram, depois de lerem alguns livros da Paulina CHIZIANE que ela era FEMINISTA. Rimo-nos. Com um riso de doer! Por que tem mulheres como parte do protagonismo da narrativa, então ela é FEMINISTA. NÃO! O mesmo se diz sobre a POLIGAMIA. Falam sempre pela tangente: não sabem que, há alguns tempos atrás quem propunha ao marido uma outra mulher era a esposa. Ela dizia: marido, quero uma irmã. Como notam: não era rival, mas sim, irmã. Ela fazia questão de ir, pessoalmente, escolher a mulher que deveria ser sua irmã no lar, isto é: aquela que deveria ser a segunda. Hoje, falar desta estrutura familiar é hostilizar a mulher. É diminui-la. CONVENHAMOS. NÃO! Este é o problema de falar pela diagonal. Definir o todo a partir da circunferência individual.

5. PENSAR O UNIVERSAL A PARTIR DE RETALHOS.

É o que hoje vende: pensar que conhece a Nação a partir do umbigo. Definir a cultura de uma Nação a partir do retalho. E a agenda deste grupo é grande. Conseguem penetrar até nas estruturas do governo para impor agendas em nome de doações. Praticamente, coaptam a autoridade. Inclusive dizem besteiras sobre os RITOS DE INICIAÇÃO, a nossa ESCOLA PRIMEIRA DE FORMAÇÃO DO HOMEM. A este ponto, retomo na III PARTE.

CONTINUA!...

Dionísio BAHULE

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