A sorte tardara chegar, os problemas não paravam de aumentar, não havia um pingo sequer de solução à vista. Assim era o dia-a-dia de uma família chefiada por Malangão, senhor prestativo, pronto a servir e ajudar a quem precisasse mas sempre lamentava que a bonança na vida tardará pairar.
— Aí minha mãe do céu! Se é para continuar a viver assim que seja no seu leito.
— Os bons momentos esses um dia chegarão...
Continuava sempre em prontidão e a batalhar. A esperança jamais morreria, enquanto honrava na terra a vida da sua saudosa e carinhosa mãe.
De biscato à biscado, a sola do sapato gastava-se por completo mas isso motivava-o a progredir porque no final do dia conseguia o seu farnel de forma honesta e digna.
Enquanto ganhava aos pouquinhos, esperava também pela sua indeminização pela reforma que nunca fazia-se sentir passados oito anos de intenso pavor e recorrências ao tribunal. Este era o grande martírio, a pedra no sapato, a gota de água no oceano, a luz que nunca acendia mesmo colocadas pilhas novíssimas. Os defensores públicos e privados já conheciam o caso, até faziam algumas farpas:
— Está cheia de poeira, tens que sacudir antes que provoque-nos doenças.
— Pinta o cabelo Malangão! Estás cheia de barbas brancas.
Coitado do velhinho! Só olhava e baixava o rostinho.

José Mulodiua
José Mulodiua nasceu em Quelimane, Província da Zambézia - Moçambique. É docente e escritor, tem vários textos publicados em revistas e antologias em Moçambique, Portugal, Brasil e México.